Encontra-se na biografia de Francisco Cândido Xavier, um fato que sempre me chamou atenção e parece passar despercebido para muitos. Antes de iniciar a publicaçâo de suas obras, sob a orientação de seu guia espiritual, Chico colocou fogo em vários anos de intensa produção mediúnica. Centenas de páginas psicografadas, até então, foram queimadas e jogadas no lixo. Certamente deve ter escrito não poucas mensagens edificantes, mas seu guia catalogou-as todas como “exercícios”, e o médium reconheceu isso com humildade.
As biografias ainda relatam o conflito de Chico naquele período, sua dúvida sobre o quanto aquelas produções eram, de fato, provindas dos espíritos e não de sua própria mente.
A partir de um determinado momento, portanto, este médium julgou que as mensagens tinham ganhado individualidade adequada, e distinção suficiente de sua própria psicologia consciente, para serem aceitas como de origem espiritual.
Digno de nota é que esta dúvida parece nunca ter desaparecido totalmente, aceitando, com tranquilidade, as críticas que lhe fizeram sobre mensagens recebidas a respeito de vida em outras planetas. Em entrevista a Marlene Nobre, Chico afirma a possibilidade de ter influenciado a descrição dos espíritos, sobre a existência de seres humanos no planeta Marte, em mensagens psicografadas que falam de cidades, roupas e vida social neste planeta. Informou que estava bastante empolgado com a idéia na época e deve ter influenciado estas comunicações.
Comentei essa declaração, certa vez, com alguns companheiros de movimento espírita, e observei uma atitude bastante generalizada: negar a influëncia do médium. Disseram: “Chico falou isso por humildade, na verdade foi o espírito que se enganou”. Pois esse mesmos companheiros eram da opinião de que existem médiuns com capacidades limitadas, intermediários do outro mundo apenas para socorrerem espiritos sofredores, enquanto Os Médiuns, possuiam uma missão, e colocavam o Chico nesta última categoria.
“Nem todos tem grandes capacidades e nem nasceram para isso” – pensamento bastante cômodo, nem sempre coerente com os fatos. Chico iniciou sua produção com os mesmos conflitos e perturbações que acompanhamos na vida de dezenas de médiuns. O que parece ser um diferencial, é a responsabilidade com a qual lidava com os fenômenos. Jamais se conformou com a hipótese de que toda mensagem escrita, durante o transe, é uma comunição espiritual, o que parece ser a crença da muitos espíritas.
De um modo geral, se o indivíduo está sob uma emoção diferente, se o pensamento difere daqueles que lhe estavam em mente antes da reunião, então concluisse: Mediunidade!. Depois de alguns anos, infelizmente, tudo que se fala e escreve sob estado de transe, é considerado sagrado, intocável e indiscutível.
Chico parecia ter outro diferencial: aceitava críticas. Os companheiros que citei, ao contrário, tinham essa grande dificuldade, se melindravam sempre que alguém lhes apontava um defeito. Como analisar a produção mediúnica de alguém que não é capaz de realizar uma autocrítica? Impossível.
Depois destas experiências pessoais, não estranho mais que existam tantas obras mediúnicas de baixa qualidade, atribuídas a espíritos famosos, da literatura, da ciência ou do próprio movimento espírita. Vitor Hugo ficaria espantado com o nível das mensagens que lhe são atribuídas por aí. Me pergunto se realmente estes médiuns se dignaram a ler alguma coisa das consagradas obras deste famoso escritor francês. “O livro passa uma mensagem positiva, orientações para o bem”. Correto. Mas há uma diferença significativa entre dar bons conselhos e dizer que Victor Hugo está vivo e escrevendo através de mim, sendo, no mínimo, uma questão de injustiça atribuir um conteúdo literário medíocre ao nome deste escritor.
Olá, Paul! Importantes considerações as suas!
Outro dia analisei um livro escrito pelo espírito Eça de Queiroz, mas não tinha nenhuma semelhança literária: http://analisando-livro-espirita.blogspot.com/2009/09/o-valor-das-experiencias.html
Escrevi a pouco um texto sobre vida em outros planetas que tem a ver com o seu post: http://divagando-hipotese-espirita.blogspot.com/2009/10/kardec-e-sua-estrela-guia.html
Abraço!